quinta-feira, 31 de agosto de 2017

CONSELHOS DE AVÔ

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É de amplo conhecimento a aversão do Imperador Dom Pedro II às festas, sempre comparecendo por mera obrigação, por exemplo, durante no fatídico Baile da Ilha Fiscal, organizado pelo Gabinete do Visconde de Ouro Preto, Dom Pedro somente marcou presença, chegando às dez da noite e partindo pouco depois da meia noite e tendo dançado apenas uma vez, com uma debutante, a filha do Barão Sampaio Vianna. Já sua filha, a Princesa Imperial do Brasil, era mais animada, organizando festas, saraus e reuniões no Paço Isabel, porém sempre muito reservadas e econômicas.

Ninguém na Família Imperial se assemelhava ao Príncipe Dom Pedro Augusto de Saxe-Coburgo e Bragança, filho da Princesa Dona Leopoldina, Duquesa de Saxe, e de seu marido o Príncipe Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, Duque de Saxe. Alcunhado “O Predileto” por ser o primeiro neto e o mais próximo do Imperador, tendo sido por considerável tempo como o herdeiro presuntivo do Trono, devido à dificuldade de sua tia, a Princesa Imperial Dona Isabel, ter um herdeiro, era ele de fato ditava a vida social da Corte, sendo convidado para todas as grandes festas e oferecendo magníficas recepções no Paço Leopoldina.

Certa vez o Príncipe Dom Pedro Augusto foi a um baile na casa da Baronesa de Rio Comprido. Seu avô, Dom Pedro II, notou que havia saído em trajes de gala, compreendeu tudo na hora, e à hora de recolher-se, em vez de ir para os seus aposentos, foi deitar-se na cama do neto, permanecendo ali a ler, até que finalmente o Príncipe chegou.

Dom Pedro Augusto, ao entrar, muito satisfeito, recuou assustado com a inesperada visão de seu avô, indagando subitamente:

- “Vovô!?...”

O Imperador, deitado, lendo Dom Quixote, o interrompeu antes que completasse a frase acalmando e explicando ao seu neto:

- “Tranquiliza-te, meu filho, que sou eu. Uma cama de rapaz solteiro não deve ser abandonada durante a noite inteira. Vi-a tão solitária, e vim fazer-lhe companhia. Peço-te apenas que não me obrigues a repetir estas noitadas. Os velhos também não devem alterar os seus hábitos, e só tu me obrigarias a fazer isso.”

Baseado em texto do livro “Revivendo o Brasil-Império”

Imagem: Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina com o neto, Dom Pedro Augusto, Jungmann, 1887.

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