domingo, 13 de agosto de 2017

NOS PASSOS DE DOM PEDRO

Em 14 de agosto de 1822, d. Pedro saiu do RJ rumo a SP. “São Paulo estava o caos”, afirma o historiador Paulo Rezzutti. “O governo eleito havia dado um golpe no próprio governo e se recusava, apesar da ordem do príncipe, a se dissolver e chamar novas eleições. D. Pedro veio para fazer as ordens dele serem cumpridas. E aproveitou a viagem para apaziguar a província e fazer alianças com os fazendeiros mais poderosos do Vale do Paraíba, que lhe serviriam na Independência.”

Da Quinta da Boa Vista, a primeira parada foi na Fazenda de Santa Cruz, que era da própria família imperial. Ali pernoitou. No dia seguinte, d. Pedro já estava em terras paulistas. Chegou à Fazenda Três Barras, em Bananal, na época pertencente ao capitão Hilário Gomes de Almeida – que, doente, estava acamado e foi visitado pelo príncipe em seu quarto. Hoje ali funciona um hotel-fazenda.

Foto: Paulo Rezzutti/ Turismo na História

“Bastante modificado por sucessivas reformas, o local se transformou no Hotel Três Barras”. “Em memória da passagem do príncipe, uma suíte, onde dizem que ele dormiu, foi batizada de ‘imperial’.

No dia 17 de agosto, um d. Pedro “quase anônimo” foi para São José do Barreiro, passando pela Fazenda Pau d’Alho. “A fazenda, que começou a ser construída em 1817 pelo coronel João Ferreira, recebeu o príncipe para uma refeição apressada”, pontua o historiador. “Apostando corrida com os demais componentes da comitiva, chegou antes do esperado na fazenda e pediu um prato de comida. A proprietária, sem saber que o forasteiro era d. Pedro, não negou comida ao viajante, mas o recebeu na cozinha, afinal a sala de jantar estava sendo preparada com toda a pompa e circunstância para receber o príncipe regente para almoçar.”

Foto: Paulo Rezzutti/ Turismo na História

Em seguida, ainda no mesmo dia, foi a vez de a comitiva parar na casa do capitão-mor Domingos da Silva, em Areias. “Teria dormido no último quarto, uma espécie de mirante ainda existente de onde é possível ver parte da cidade e da região”, relata Rezzutti. Cachoeira Paulista, então chamada de Porto Cachoeira, foi ponto de parada rápida no dia 18. À noite, a comitiva chegou à Lorena. “Nessa cidade, d. Pedro ficou na casa do capitão-mor Ventura José de Abreu. A residência não existe mais. O príncipe teria plantado uma das primeiras palmeiras da Rua das Palmeiras, que se localiza no centro da cidade. Também conheceu a Casa de Câmara e Cadeia, que não foi preservada, e a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.”

Em Guaratinguetá, no dia 19, ficou hospedado na casa do capitão-mor Manoel José de Melo – cuja construção não existe mais. A comitiva saiu maior de Guaratinguetá. D. Pedro arregimentava novos seguidores, que formavam uma guarda de honra. O grupo passou pela então Capela de Nossa Senhora Aparecida, hoje município de Aparecida. Segundo a tradição popular, além de suas orações d. Pedro teria feito um voto, se tudo ocorresse bem, ele tornaria N.S. Aparecida padroeira do Brasil.

Foto: Paulo Rezzutti/ Turismo na História

A parada seguinte seria em Pindamonhangaba. Ali, d. Pedro ficou hospedado no sobrado do irmão do capitão-mor, o monsenhor Ignácio Marcondes de Oliveira Cabral. “Conhecido como ‘sobrado dos Marcondes’. “Devido à grande quantidade de homens influentes da região a se juntarem a d. Pedro em sua guarda de honra, existe numa das praças centrais da cidade um monumento lembrando esse fato. Outra curiosidade é que Pinda foi a única cidade sem ser capital que recebeu os restos mortais de d. Pedro I durante as comemorações do Sesquicentenário da Independência. O caixão ficou na igreja de São José nos dias 2 e 3 de setembro de 1972.

Foto: Paulo Rezzutti/ Turismo na História

Em Taubaté, em 21 de agosto, d. Pedro passou a noite na casa do cônego Antônio Moreira da Costa. “Teria visitado o antigo Convento de Santa Clara, fundado em 1673. Também a antiga Igreja do Pilar é um dos testemunhos antigos da passagem do príncipe pela cidade”, pontua. “Várias administrações, desde 1873 até o século XX, buscaram relembrar a passagem de d. Pedro pela cidade. Em 1873 foi a rua do gado batizada como Rua do Príncipe. Depois, na República, mudada para Rua 15 de Novembro. Em 1955, o nome dos taubatenses que seguiram com d. Pedro para São Paulo como parte de sua guarda de honra foram postos em algumas ruas da cidade. A Rua Ipiranga e a Avenida D. Pedro I também tiveram seus nomes colocados no mesmo ano.”

No dia 22, foi recebido pelo capitão-mor Claudio José Machado, em Jacareí. “Uma curiosidade: A travessia de Taubaté para Jacareí era feita de balsa pelo Rio Paraíba. Conta-se a história que d. Pedro, irrequieto como só ele, sem ter paciência para esperar a balsa, esporeou a montaria e atirou-se às águas do Paraíba para ser logo recebido pela multidão de Jacareí que o esperava do outro lado da margem. Após ser recebido, com os calções molhados, pôs-se a procurar alguém que tivesse o seu tamanho e que estivesse com as calças secas”, narra Rezzutti. “A vítima foi Adriano Gomes Vieira, Adriano teve a ‘honra’ de dar suas calças secas para o príncipe, ficando com as molhadas dele.”

Em Mogi das Cruzes, no dia 23, foi recebido pela população local e assistiu à missa na Igreja de Sant’Ana, onde hoje está a Catedral de mesmo nome. Ali, ficou hospedado com o capitão-mor Francisco de Mello. Chegaria a Penha de França, hoje parte da cidade de São Paulo, no dia 24. Assistiu à outra missa ali, na manhã do dia 25, antes de sua entrada oficial em terras paulistanas, quando foi recebido pela vereança, pelos religiosos e pela população diante da Igreja e Convento do Carmo. “A igreja da Ordem Terceira e o relevo do local, são os dois únicos guardiões atuais da passagem do príncipe pelo local”, comenta.

Em São Paulo, d. Pedro teve uma intensa rotina antes do 7 de setembro que foi eternizado. “Convocou novas eleições e, enquanto isso, governou a província interinamente”, afirma Rezzutti.

LINK ORIGINAL: ESTADÃO

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