sexta-feira, 4 de agosto de 2017

DETROIT PAULISTA

Pioneiro: Claudio Bonadei e família no primeiro carro contruido no Brasil

Em 1891, o vapor Portugal atracou no porto de Santos trazendo em seus porões uma novidade que, em pouco tempo, iria mudar o cotidiano dos paulistas. Enquanto os parentes e amigos dos passageiros recebiam as últimas notícias da Europa, o futuro desembarcava do navio com um ruído ritmado e característico, apoiando-se sobre quatro rodas de arame e, o que era mais fantástico na época, deslocando-se sem a necessidade de uma parelha de cavalos! Tratava-se de um  pequeno  e simpático Peugeot. Quem trouxe a voiturette (carrinho) da França foi Alberto Santos Dumont, futuro Pai da Aviação. Filho do fazendeiro de café Henrique Santos Dumont, ele acompanhou o pai em uma viagem à Europa e se apaixonou pelos veículos movidos a motores de combustão interna. "Os automóveis eram muito raros em Paris em 1891 e tive de ir à usina de Valentigney para comprar minha primeira máquina, um Peugeot de rodas altas, de 3,5 cavalos de força. Daí para a frente tornei-me adepto fervoroso do automóvel. Entretive-me em estudar os seus diversos órgãos e a ação de cada um. Aprendi a consertar a máquina e quando, ao fim de sete meses, minha família voltou ao Brasil, levei comigo minha Peugeot", contou o inventor, em suas memórias.

Henrique Santos Dumont e seu Peugeot

O Peugeot ficou por muito tempo na mansão dos Dumont, na alameda Cleveland, bairro dos Campos Elíseos, mas dele não existem registros históricos suficientes para elucidar sua trajetória no País. Muitos dizem que foi devolvido à fabrica, devido a defeitos mecânicos, hipótese das mais improváveis, já que seu dono era um gênio nesse campo. Os fatos na verdade apontam para duas outras possibilidades: a venda da máquina ou seu desmonte, servindo as peças para projetos aeronáuticos.

O certo é que a família Dumont gostou da novidade. Tanto é que em 1893 Henrique  já desfilava pelo Centro da cidade a bordo de um reluzente Daimler. Cinco anos depois, outro Peugeot ganhou as ruas da Capital. Seria o terceiro automóvel a rodar por São Paulo ou o velho carro de Alberto Santos Dumont com um novo dono ao volante? Mistério...

Automóvel de Placa No. 1, do Conde Francisco Matarazzo

Como a moda estava pegando, não demorou  para que o poder público estabelecesse regras para as "carruagens sem cavalos".

Em 26 de outubro de 1900, o prefeito Álvaro Ramos promulgou a lei 493, que regulamentava o pagamento de uma taxa obrigatória pelos proprietários de automóveis. Em 1903, seu sucessor, Antônio Prado, baixou o ato 146, tornando obrigatórios o   licenciamento e a inspeção dos veículos e estabelecendo também o limite máximo de velocidade no município, 30 km/ h em áreas descampadas.

Henrique Dumont recusou-se a licenciar seu carro e, desse modo, a chapa número 1 ficou com o conde Francisco Matarazzo, que a manteve até sua morte. O primeiro condutor a ser examinado, contudo, foi Menotti Falchi, que viera da Itália no final do século 19 para dirigir, com seu irmão José, a Fábrica de Chocolates Falchi. Menotti recebeu a primeira "carta de condutor" em 1904, quando havia cerca de 83 carros registrados na Capital.

Fundo de quintal - No início do século, o automóvel era um privilégio de poucos, mas um imigrante italiano que chegou a São Paulo em 1899 quebrou esse tabu. Decidido a ter seu próprio carro, Cláudio Bonadei dedicou-se à construção daquele que é considerado o primeiro veículo nacional movido a um motor de combustão interna. Mecânico da seção de máquinas da companhia Singer, ele era um homem do povo, casado, com dois filhos e uma modesta renda mensal. Mas havia cursado Engenharia em Pádua, na Itália, o que lhe possibilitou realizar seu sonho, igualando-se aos figurões da época.

Juntando todas as suas economias, o italiano conseguiu adquirir um velho modelo francês bastante desatualizado. De posse do carro, desmontou-o e, nas horas de folga, consertou a parte mecânica e construiu uma nova carroceria. Em 1905 (ou 1908, pois os registros históricos variam conforme a fonte), o carro finalmente ficou pronto e, curiosamente, Bonadei percebeu que este não passaria pela porta de sua oficina, o que o obrigou a derrubar a parede da mesma para retirar a volturette. Finalmente, o veículo subiu a ladeira São João, entre a rua Libero Badaró e o largo do Rosário, onde o imigrante foi ovacionado pela multidão devido a seu "feito heroico". Afinal de contas, era a primeira vez que um proletário se equiparava aos poderosos da época.

Fabricar automóveis, no entanto, nunca foi uma atividade para empreendimentos de fundo de quintal. Assim, no final da primeira década do século, uma nova marca começou a ganhar terreno, abrindo vantagem em relação aos delicados modelos europeus e oferecendo ao público um veículo mais simples e com manutenção infinitamente mais barata: a Ford e seu Mo­delo T, o carro que ficaria famoso por ter "dado rodas à América". A aceitação foi tão grande que, no fim da década seguinte, Henry Ford resolveu criar uma filial de sua empresa no Brasil. Com capital inicial de US$ 25 mil, logo depois aumentado para US$ 30 mil, em 1° de maio de 1919 foram instalados uma linha de montagem de componentes importados e um escritório na rua Florêncio de Abreu, Centro da Capital. No ano seguinte, mudou-se para a praça da República e, em 1921, para a rua Sólon, no Bom Retiro.


A Fábrica da Ford no Bom Retiro

Linha da Ford: O modelo T fez história

A Ford, contudo, não ficou sozinha por muito tempo. Em 1925, chegou ao País a General Motors, sua maior rival, que, com um capital inicial de ÜS$ 270 mil, se instalou na avenida Presidente Wilson, 2.315. Em setembro daquele ano, tinha início a montagem de veículos importados, inicialmente 25 carros por dia, depois 40 no ano seguinte. Em 1927, após ter montado cerca de 25 mil automóveis, a empresa passou a se dedicar à construção de uma nova fábrica, instalada em São Caetano do Sul, com área coberta de 45 mil metros quadrados. Inaugurada em 1929, a unidade possibilitou à multinacional americana montar 100 veículos por dia, e até hoje (2010), ainda utiliza esta fábrica, sendo sua sede Central no Brasil.



Linha de Montagem da GM na Av.Presidente Wilson e em São Caetano

LINK ORIGINAL: NETLELAND

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