terça-feira, 7 de novembro de 2017

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Uma curiosidade, a Língua Portuguesa é o único idioma latino em que os dias da semana não têm as antigas designações pagãs dos deuses romanos, mas antes nomes eclesiásticos. Essa mudança foi patrocinada por um dos mais importantes clérigos Bracarenses da Alta Idade Média, o Arcebispo Martinho de Dume, conversor dos Suevos, braço direito dos monarcas germânicos e Santo da Igreja Católica.

Essa mudança foi tornada oficial no 1º Concílio de Braga, corria o ano de 561 d.C. Convocado pelo rei Suevo Ariamiro, com o apoio do Papa João III, tendo o objectivo de lidar com as correntes heterodoxas do Cristianismo primitivo, declarando anátema sobre todos aqueles que acreditassem em doutrinas de tipo maniqueísta, como os Priscilianistas ou os Arianos.

Mas a decisão mais curiosa saída deste Concílio foi tomada pelo Arcebispo Martinho, considerando indigno de bons cristãos que se continuasse a chamar os dias da semana pelos nomes latinos pagãos (Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies), decidindo então usar a terminologia eclesiástica para os designar (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica), donde os modernos dias em Língua portuguesa (segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo) surgiram.
Caso único entre as línguas novilatinas, dado ter sido a única a substituir inteiramente a terminologia pagã pela terminologia cristã.

Isto explica o facto de os mais antigos documentos redigidos em Português, fortemente influenciados por este latim eclesiástico, não terem qualquer vestígio da velha designação romana dos dias da semana, prova da forte acção desenvolvida por São Martinho e seus sucessores na substituição dos nomes.
Martinho tentou também substituir os nomes dos planetas, mas aí já não foi tão bem sucedido, pelo que ainda hoje os chamamos pelos seus nomes clássicos pagãos.

Imagem do Concílio de Braga: o Rei Suevo Ariamiro à direita e os Bispos Lucrécio (esquerda), André (centro) e o Arcebispo São Martinho. (Codex Legionensis, século X).

Fontes:

COSTA, Avelino de Jesus - S. Martinho de Dume, (XIV Centenário da sua chegada à Península). Braga, Ed. Cenáculo, 1950.

Ferreiro, Alberto. "Braga and Tours: Some Observations on Gregory's De virtutibus sancti Martini." Journal of Early Christian Studies. 3 (1995), p. 195–210.

SOARES, Luís Ribeiro - A linhagem cultural de S. Martinho de Dume, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1997.

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