quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A ANÁLISE DE NABUCO

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"[Nabuco] não deixava-se enredar por uma visão idílica da vida pública do Império; ele reconhecia que ela havia sido farta em episódios reveladores do clientelismo, do privatismo e outros vícios na atividade política. Ocorre que, consideradas em si mesmas, corrupção e civismo tinham causas mais sociais do que políticas; eram os males da nossa má-formação que levavam os líderes a desconhecerem que "o governo é uma função do estado e não do indivíduo".

No entanto, conforme implícito naquele raciocínio, Nabuco acreditava que a engenharia institucional pudesse contribuir para incentivar ou coibir a corrupção. Se a própria sociedade demonstrava "a mais absoluta indiferença" acerca dela, devido à "relaxação do nosso senso moral, junto à bondade da nossa índole", ele concluía que somente uma força estranha ao meio, comprometida com os valores republicanos, poderia moralizá-lo:

"O nosso Cromwell tinha que nos cair do céu, e enquanto levasse a corrupção a ferro e fogo, havia de ficar no ar" (Nabuco, 1989, p. 397).

Segundo Nabuco, a influência mais republicana da política brasileira havia sido o próprio Imperador, censurando os ministros nos seus excessos facciosos, sublinhando a importância de uma conduta ilibada, esforçando-se pela moralidade eleitoral e alternando os partidos no poder, sempre pessoalmente desinteressado.

Por que duvidar, portanto, que a Monarquia pudesse continuar a "reformar os costumes e criar na sociedade o senso moral que lhe falta"? (Nabuco, 1989, p. 399).

Por outro lado, na medida em que poria a chefia do Estado ao alcance de qualquer um, lhe parecia que, no Brasil, o advento da República provocaria o efeito oposto, potencializando as ambições e os interesses predatórios de uma sociedade que ignorava o sentido cívico da vida pública.

"A república representaria a maior relaxação, exatamente porque seria a sociedade tal qual é, sem o único ponto de apoio possível para essa reação da moralidade" (Nabuco, 1989, p. 398).

Desaparecendo a tutela da Monarquia sobre o sistema político e a sociedade informe que jazia debaixo dele, desapareceria a única fonte que ainda poderia irrigá-la, do alto, com o exemplo do desinteresse e da abnegação - ou seja, com valores republicanos.

Eis por que, para o repúblico Nabuco, "o erro fundamental dos republicanos" estava em supor que "a monarquia era um movimento ou fase contrária à aspiração republicana, quando a monarquia era o núcleo em que essa aspiração começava a consolidar-se" (Jornal do Brasil, 1891 b).

O Império é que era a República: a monarquia republicana de Joaquim Nabuco.

Christian Edward Cyril Lynch.

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