S.M. a Imperatriz Dona Tereza Cristina do Brasil
"Na madrugada de 17 para 18 de março de 1882, um ladrão entrou sorrateiramente no Palácio da Quinta de São Cristóvão, residência oficial da família imperial, e surrupiou de dentro de um armário todas joias particulares da imperatriz Teresa Cristina. O tesouro foi avaliado em 900 contos de réis - verdadeira fortuna na época (equivalente em valores atuais em torno de $ 28,5 milhões de dólares ou R$ 85 milhões de reais).
As joias não pertenciam ao Império, sim a pessoa Dona Teresa Cristina que as adquiriu com heranças e presentes de amigos e familiares. As joias Imperiais eram guardados em 2 cofres no Paço da Cidade e na Quinta Imperial de São Cristóvão. Mesmo se o gatuno as conseguisse roubar, não teria como carregar devido a quantidade e tamanhos das joias Imperiais, curiosamente, raramente usadas pela família Imperial.
Mas o escândalo que se seguiu, cheio de lances mirabolantes, deu-se menos pelo valor do furto do que pelo seu potencial conteúdo político. A sete anos do golpe militar que proclamou a República, quando a abolição da escravatura e outras questões candentes eram debatidas em todas as esquinas da Corte por contendores apaixonados, o assunto não poderia deixar de se transformar, de fato, num prato cheio para a oposição.
Este seria apenas o começo de uma eletrizante novela, que a imprensa soube explorar de maneira tão sensacionalista quanto impiedosa. Pela primeira vez no império, a roupa suja da monarquia era lavada no meio da rua, para desgosto de uma família que cultivava a discrição como um dos seus principais predicados.
As joias roubadas haviam sido usadas dias antes, numa cerimônia no Paço da Cidade. Após o baile que comemorou os 60 anos de Teresa Cristina, o casal imperial havia seguido para Petrópolis. Antes disso, os ornamentos de valor foram depositados numa caixa, entregue a Francisco de Paula Lobo, funcionário do serviço particular, que deveria guardá-la em segurança.
Como o criado não encontrou a chave do cofre, foi em companhia de outro empregado, José Virgílio Tavares, até os aposentos imperiais e guardou a caixa dentro de um armário comum, de onde as joias desapareceram. Dias depois, uma carta anônima apontou a localização das joias. Estavam dentro de latas de biscoito, enterradas em meio a um lamaçal, nos fundos da casa do suspeito.
Com a ajuda do próprio Paiva, policiais cavaram o chão e encontraram o tesouro composto de dezenas de adornos raros e valiosíssimos, entre eles pulseiras, broches, comendas, tiaras e colares, todos em ouro incrustados de centenas de pérolas, brilhantes, esmeraldas ,rubis entre outras pedras preciosas.
Prevalece a imagem de uma Teresa Cristina passiva e silenciosa, embora se soubesse que ela era muito ciumenta e, como uma mulher comum, não poupava a pessoa do imperador nos seus ataques de fúria. Teresa Cristina chegava a dar beliscões no marido quando, nos camarotes dos teatros, percebia que ele estava observando, de binóculos, as mulheres do palco e da plateia. Teresa Cristina parecia representar o papel de “boa mãe dos brasileiros”: indignada, mas calada, pacífica, amável, religiosa, traída, e ainda por cima... Roubada.
Teresa Cristina, usando novamente as suas joias, acompanhou seu esposo o imperador ao Baile da Ilha Fiscal, último baile da monarquia, no dia 9 de novembro de 1889:
"Dançou-se muito no baile da Ilha Fiscal, mas o que os convidados não imaginavam, nem o imperador D. Pedro II, é que se dançava sobre um vulcão. À mesma hora em que se acendiam as luzes do palacete para receber os milhares de convidados engalanados, os republicanos reuniam-se no Clube Militar, presididos pelo tenente-coronel Benjamin Constant, para maquinar a queda do Império.
"Mais do que nunca, preciso sejam-me dados plenos poderes para tirar a classe militar de um estado de coisas incompatível com sua honra e sua dignidade", discursou Constant na ocasião, tendo como alvo justamente o Visconde de Ouro Preto. Longe dali, ao lado da família imperial, o visconde desmanchava-se em sorrisos ao comandar seu suntuoso festim. A família imperial chegou ao cais pouco antes das 10 horas.
D. Pedro II, fardado de almirante, a imperatriz Teresa Cristina e o príncipe D. Pedro Augusto embarcaram primeiro. Quinze minutos depois foi à vez da princesa Isabel e do conde D’Eu. Uma vez no palácio, foram conduzidos a um salão em separado, onde já se achavam reunidos membros do corpo diplomáticos estrangeiros oficiais e alguns eleitos da sociedade carioca.
O guarda-roupa da imperatriz não chegou a causar impressão especial entre os convidados - um vestido de renda de chantili preta, guarnecido de cristais e pérolas, além de uma pequena tiara de brilhante discretamente ornada entre os cabelos. A toalete da princesa Isabel, no entanto, causou exclamações de admiração pelo luxo e pela beleza.
Ela portava uma roupa de moiré preta listada com veludo em grande cauda, tendo na frente altos bordados feitos em ouro e botões de diamantes. Nos cabelos, carregava dois grandes diademas de brilhantes.
- José do Patrocínio, 1890. (Jornal, A Cidade do Rio).
A Princesa Isabel já em seu exílio em 1904 foi perguntada por que a família raramente usava as jóias Imperiais no Brasil. Princesa Isabel respondeu que tanto ela como sua mãe, sabia que aquelas joias não as pertenciam. Que poderiam usar a qualquer hora em qualquer ocasião, mas raramente enxergavam motivos para usa-las. “Ainda mais se tratando de adornos grandes, pesados e de extrema “arrogância” com nosso povo”.
Em Particular a Imperatriz Teresa Cristina sempre foi alvo de jornais e nobres da época por sua simplicidade e falta de capricho em seus trajes e adornos. Sempre muito discreta, só usava suas próprias joias de cunho pessoal, nunca usou as jóias do cofre Imperial, as tais “joias da coroa”. A mídia zombava de uma Imperatriz que se vestia como uma senhora de classe média.
A maioria das joias particulares de família foram leiloadas e outras roubadas pelos militares dias após o Golpe de 1889. Já as joias Imperiais foram totalmente saqueadas pelos militares.
José do Patrocínio foi torturado e exilado pela censura militar do começo da dita República em 1892, pois seu periódico A Cidade do Rio, fazia grandes criticas ao regime e aos novos governantes militares, além da famosa admiração que Patrocínio nutria por Princesa Isabel, que manteve correspondência até seus últimos dias de vida.
Patrocínio faleceu em 1905 na pobreza em um sobrado no bairro de Inhaúma, convincente que a Monarquia deveria ter continuado com o reinado de Princesa Isabel onde seus feitos seriam de grande beneficio aos negros e ex-escravos, já que a Princesa começava a colocar em pratica nos últimos anos de Império suas ideias sobre o suporte social e financeiro aos ex-cativos.
Fonte: Diário de Pedro II, Biblioteca Nacional RJ e Acervo do Museu Imperial de Petrópolis RJ .
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