quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Como Pedro II perdeu o trono nas montanhas de Minas Gerais

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Hermes Ernesto da Fonseca, irmão de Deodoro.

Por Laurentino Gomes

Nesta terça-feira, primeiro de outubro, lanço o meu novo livro, 1889, em Belo Horizonte. Minas Gerais é um dos Estados que mais incentivam a leitura no Brasil. Diversos e bem sucedidos programas públicos e privados procuram aproximar autores, editores, escolas, bibliotecas e leitores. O mais tradicional e respeitado é o “Sempre Um Papo”, do escritor e produtor cultural Afonso Borges, meu anfitrião na capital mineira esta semana e um ardoroso batalhador no campo na literatura brasileira.

Idealizado há 26 anos, o “Sempre um Papo” já se tornou em lenda entre os inúmeros escritores que dele participaram e se surpreenderam com a enorme repercussão do projeto. Até agora já foram realizados mais de 4.500 eventos em trinta cidades brasileiras, com uma breve incursão também pela Espanha, reunindo um público estimado em 1,5 milhão de pessoas. O formato é sempre o mesmo: um animado bate-papo auditório entre escritores e leitores mediado pelo próprio Afonso ou alguém de sua equipe. A conversa é gravada e depois retransmitida por diversos meios eletrônicos, incluindo a televisão e a internet. Em país em que se lê tão pouco, é um feito e tanto!

Pela sua importância fundamental na História do Brasil, Minas Gerais e os mineiros são citados inúmeras vezes nos livros que compõe a minha trilogia. Em 1808, eu descrevo a paisagem e os tipos humanos mineiros pelos olhos dos viajantes que percorreram a região após a abertura dos portos pelo Príncipe Regente D. João. Em 1822, os capítulos iniciais narram a jornada épica do jovem príncipe D. Pedro rumo às margens do Ipiranga, iniciada semanas antes entre os montanhas de Minas Gerais.

Curiosamente, na Proclamação da República, tema do terceiro livro, as minguadas esperanças de salvar o trono brasileiro estavam justamente em Minas Gerais. Na manhã do dia 15 de novembro de 1889, ao ouvir das notícias do golpe militar liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca no Rio de Janeiro, o engenheiro abolicionista André Rebouças, amigo da família imperial, procurou o Conde D’Eu, marido da Princesa Isabel, e sugeriu que os aliados da monarquia se retirassem para Petrópolis e, em seguida, para Minas Gerais, de onde se poderia organizar a resistência contra os republicanos.

Isabel e o Conde D’Eu concordaram com a proposta de André Rebouças, mas o plano fracassou porque, naquela mesma hora, o próprio imperador tomava decisão oposta. Em Petropólis, depois de ler os telegramas que lhe enviara o Visconde de Ouro Preto, chefe do gabinente de ministros derrubado por Deodoro, Pedro II pediu que lhe preparasse um trem às pressas para descer ao Rio de Janeiro. No percurso, foi lendo jornais e revistas enquanto repetia: “Conheço os brasileiros, isso não vai dar em nada!”. Os acontecimentos daquele dia comprovariam que estava redondamente enganado.

Horas mais tarde, já no dia 16 de novembro, ocorreu na Bahia a única reação importante em favor da monarquia, liderada por ninguém menos do que o irmão do Marechal Deodoro, o general (também futuro marechal) Hermes Ernesto da Fonseca, governador de Armas da província. Ao receber as notícias do Rio de Janeiro, Hermes Ernesto anunciou que permaneceria fiel ao imperador. Às 10h da manhã, despachou um telegrama ao governador do Pará, Silvino Cavalcante de Albuquerque, no qual avisava que pretendia resistir à república. Seu plano era reunir as tropas da Bahia e do Pará e, da mesma forma que imaginava André Rebouças, marchar para Minas Gerais, de onde poderia, então, descer ao Rio de Janeiro e restaurar a monarquia.

O general Hermes Ernesto capitulou ao saber que o próprio irmão liderava a Proclamação da República e que, àquela altura, o imperador já estava a caminho do exílio na Europa. “Eu sou republicano desde o dia 15 de novembro, mas o meu irmão Hermes é de 16”, diria mais tarde o marechal Deodoro, ao se referir ao episódio de forma divertida.

Dessa forma, Minas Gerais, uma província de sólida tradição republicana desde os tempos da Inconfidência Mineira, perdeu a chance de salvar o trono de Pedro II.

Marechal Hermes Ernesto da Fonseca, defenderia a monarquia contra o golpe republicano liderado pelo irmão, Deodoro.

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